Leitura obrigatória para você que quer ser poderosa… ou já é.
Poli treinando na Dinamarca
Num mundo de muitos padrões sociais, tanto estéticos quanto de condutas, nós mulheres, sofremos de variadas formas em quase todas as fases das nossas vidas. Há a menina que sofre bullying das tias, avós e irmãos dentro de casa, a adolescente que sofre na escola com os amigos e ainda a mulher adulta que sofre assédio no trabalho e em relacionamentos abusivos.
Não é um problema exclusivamente brasileiro, é mundial. Instituições e profissionais estão na luta para estudar, prevenir e combater esses comportamentos tão desprezíveis. Normalmente há três destinos:
1- A pessoa que simplesmente supera;
2- A pessoa que, de tanto sofrer, vira agressor (a). Resquícios de crueldade, delinquência e até crimes
3- A que pode carregar consigo crises de ansiedade, depressão e/ou pânico para o resto da vida.
Para as que superam sozinhas, percebe-se que, de alguma forma, elas já possuem uma base emocional mais sólida. Nem sempre é perceptível de onde surgem os ensinamentos para isso acontecer. Essa base pode vir da família, de outros meios acolhedores, de alguns estudos autodidatas, talvez de referência a um bom ídolo ou também pela necessidade forçada de enfrentar obrigatoriamente as agressões, que podem ser diversas. Você já foi obrigada a superar algo sozinha? Muitas vezes isso não é possível e é necessário ajuda profissional especializada.
Eu sofri bastante quando era menina e mais ainda quando adolescente. Não consigo dizer que meus pais me ajudaram a entender as situações, superar as agressões ou me aceitar do jeito que eu era. Não existia esse tipo de conversa dentro de casa e eu sempre chorava sozinha. No meu caso, a salvação foi a prática de esportes. Claro que existiram algumas situações cruéis mas mesmo assim eu consegui ter um saldo bem positivo de histórias boas, aprendi a ser resiliente.
De todos os esportes que pratiquei, o parkour foi a modalidade que mais agregou valores na minha vida. Há 14 anos estou inserida nesta comunidade e, naturalmente, faço algumas relações de vivências. A exemplo disso é essa relação de sofrimento e superação. Dá uma olhadinha nos conceitos de resiliência e parkour, são praticamente idênticos.
- Resiliência é a capacidade de o indivíduo lidar com problemas, adaptar-se a mudanças, superar obstáculos ou resistir à pressão de situações adversas.
- Parkour é um método de treinamento do corpo e da mente para superar obstáculos físicos e dificuldades cotidianas.
Ambos te forçam a administrar as emoções, controlar impulsos, analisar ambientes, ser otimista, confiante e auto eficaz.
Claro que é possível encontrar definições mais detalhadas ainda sobre parkour mas a palavra “obstáculo” está enraizada na nossa prática. Somos viciados em procurá-los, enfrentá-los e até dificultá-los. Com isso, é essencial planejarmos nossos treinamentos para ficarmos cada vez mais fortes, tanto fisicamente quanto psicologicamente. Não é motivo de desespero quando não conseguimos realizar algum tipo de movimento por fraqueza, medo, despreparo ou simplesmente por pensamentos de incapacidade. Começamos a ficar mais tolerantes com essas situações, afinal, a resiliência torna-se regra e não opção.
Para nós mulheres, os ensinamentos do parkour nos empodera integralmente. Estamos lidando o tempo todo com fenômenos emocionais, sociais e mentais que tentam nos colocar em situação inferior. Porém, mesmo com assédios e hostilidades, aprendemos a ocupar nosso espaço treinando nas ruas. Mesmo com ralados nas mãos e no corpo, sabemos que as conquistas a cada treino são inestimáveis. Enquanto muitos querem julgar nossas roupas, a gente só se preocupa com o conforto e os deslocamentos que elas permitem. Mesmo com nossos movimentos até então não convencionais, entendemos que, para sermos melhores, o processo chama-se persistência. Aprendemos que, independente do nosso histórico de Educação Física Escolar, podemos evoluir muito, cada uma dentro do seu contexto. Que mesmo com aqueles jogos, brincadeiras e funções femininamente impostas, podemos ser quem quisermos. Que mesmo com as nossas diferenças financeiras, geográficas, educacionais, familiares e de idade, a gente quer se ver, conviver e treinar bem juntinhas num Encontro Nacional de Parkour, por exemplo.
Em resumo, o parkour nos torna brava, guerreira, batalhadora, confiante, exploradora, conhecedora.
Mulheres praticantes de Parkour em Encontros Regionais e Nacionais: Curitiba, Belo Horizonte e Rio de Janeiro
Vejo muitas semelhanças da minha história com a de outras mulheres no parkour. Começamos a treinar por razões diferentes mas continuamos por quase os mesmos motivos . Aprendemos que todas as dificuldades da vida podem se assemelhar aos obstáculos do parkour e que se algo está difícil hoje, precisamos nos preparar melhor até que estes fiquem fáceis.
Assim, dou um salve ao parkour e todas às praticantes.
Aproveito também e faço um convite a você: pratique parkour!
Até o próximo treino
Poliana Sousa @poliizz
Praticante e Professora de Parkour em Brasília
Escola de parkour @dropandleap
Escola de parkour @dropandleap