Deitada na cama esperando o sono chegar me flagrei com os seguintes pensamentos: como seria minha vida se eu não tivesse conhecido o Parkour? O que eu estaria fazendo, o sedentarismo tomaria conta de mim? E as pessoas que conheci através dos treinos?
Estranho, não consegui digerir as respostas. Elas foram mais ou menos assim: 26 de junho de 2010, um dia como outro qualquer, um dia depois da comemoração do meu aniversário. Beleza. Os próximos dias? Dormir até tarde, estudar um pouco e cursinho à noite, assim iria levando até o resultado do vestibular. Passei. Estaria indo pra universidade, conhecendo o pessoal da minha sala e provavelmente saindo com eles nos fins de semana.
(Quantos fins de semana com festas abdiquei pra estar com o pessoal treinando? Vai saber... Perdi as contas.) Não consegui pensar em nenhum esporte que eu poderia estar fazendo (estaria muito ocupada com a universidade, sabe?!). George, Valtenir, Breno, Franklin, Daniel, Diego, Danilo, Marcos, Dudu, Junin, Pombo, Teinha... Quem são esses caras todos? Um dia quem sabe os conhecerei, enquanto isso vou ali no quartel correr pra queimar alguma calorias. Eu não teria placas no pescoço (quer dizer, qualquer um esta suscetível a um acidente de carro, por exemplo). Runzão, Encontros.. Encontro Nordestino de Parkour... Fala sério, isso existe mesmo? Um bando de loucos juntos pra ficar pulando as coisas, só pode! Deixa eu ir ali pra Fortaleza pro meu congresso de reprodução animal. Não conheço ninguém em Fortal, mas tem meus amigos da universidade, vamos todos ficar alojados na estadual de lá ou em algum hotel perto de onde serão as palestras, por falar em ‘perto’ estou bem perto de muitos picos legais. Eu disse picos? Quis dizer ‘de muitos locais que nem percebi quando passei por eles’ (se é que passei por algum deles). Estou também perto de casas de algumas pessoas que treinam, mas eu não conheço nenhum deles mesmo. Pois é, menos de uma semana em Fortaleza e eu nem conheci a cidade direto, acabou o congresso, de volta pra Teresina. Que bacaaaaana, a universidade tá de greve, deixa eu aproveitar. (E fazer o que? Não tenho que acordar cedo pra assistir aula, vou dormir até as 16hs, correr no quartel e esperar algum convite do povo da minha sala pra sair à noite).
:/ Acho que seria basicamente isso. Um tanto sem graça pro meu gosto! Essa ideia já deve ter tomado conta dos pensamentos de muitos de nós, assim como a ideia de um dia a idade não nos permitir fazermos mais as mesmas coisas ou, no pior dos casos (sim, pior dos casos. Penso assim: idade é algo natural, todos atingiremos a ‘melhor idade’ (assim espero) e não podemos fazer nada quanto a isso. Agora imagina você no auge dos seus 20 anos, treinando a 5 anos e por algum motivo tem um problema na coluna, sei lá. Você tem força, tem fôlego, tem físico, mas não pode usa-los.) a idade permitir, mas algum problema de saúde não.
Deixo aqui juntamente com meus pensamentos a seguinte pergunta: ‘E para você, como achas que seria?’
Fale um pouco sobre você
Sou uma pessoa simples, conhecida por May, tenho 19 anos, nascida na capital de sampa, paulista da gema, nas minhas horas de distração gosto de estudar, gosto de dançar, escutar música , apreciar novos lugares, adoro tirar fotos, sou fascinada por seriados, sou estudante e estagiária na área de Logística.
Há quanto tempo você treina? Treino há 3 anos.
Como você conheceu o parkour?
Me tornei praticante de parkour , foi no início de 2009 tive o privilégio de ter o primeiro contato pessoalmente, foi através de um aluno da escola, eu estava no 1° ano do ensino médio e nos tempos vagos de aula , ele sempre arriscava uma coisa ou outra os movimentos de parkour, achei interessante e houve a curiosidade de conhecer melhor a atividade que tanto me chamou a atenção, além de ter perguntado à ele sobre a prática , resolvi saber mais sobre o que era através da internet , e cada vez mais fui me identificando. E logo esse aluno me chamou para um treino dois meses depois, e comecei a praticar.
O que você viu no parkour?
Encontrei na verdade diversos meios de estar me movimentando em atividades que realmente me identificava , dentre elas: vôlei , handebol, basquete, somaram alguns anos da minha vida, me dedicando á elas. Mas, não acrescentaram tanto ao meu ser quanto ao parkour, a vibe mais nítida pra mim foi a simplicidade, em lugares que pode ser praticado, da união dos praticantes, de uma arte corporal que eu pudesse expressar em movimentos e que ao mesmo tempo estar progredindo na vida, de me tornar um ser humano melhor de um modo consciente, e de certa forma encontrar a liberdade e sair do (mundinho da may) revitalizando inúmeras oportunidades de desafio, enfrentar os problemas, em um senso sadio de divertimento, a autenticidade de superar os obstáculos.
O que o parkour significa para você?
Penso logo treino, sempre digo e penso sobre parkour isso se reflete nos meu atos diariamente. A prática me tornou uma pessoa mais completa enxergando que existe muitas coisas do que simplesmente um andar. A essência da liberdade que está constante nos movimentos era ausente na minha vida. Levando em consideração que quando comecei a praticar eu tinha lá meus 15... 16 anos , não estava totalmente formada para o mundo, o parkour me deu apoio, em ser mais consciente, mais preparada, competente, e confiante. Os conhecimentos passados me ajudaram a ser precisa, fluída e leve. Foi uma ligação completa que eu precisava ter, sentir e aplicar. E com a preparação dos treinos diários, resultaram em hábitos melhores em que antes não era visto com tanta frequência, além de progredir tanto o meu corpo quanto a mente.
Tem uma frase que me identifico bastante "Quando minha energia criativa fluía mais livremente, minha atividade muscular era sempre maior." ( Friedrich Nietzche).
Eu sempre penso nessa frase antes dos meus treinos me ajuda a ser mais disposta , e ter concentração.
Quais foram os seus maiores desafios quando você começou a treinar parkour?
Um dos foi a preparação física em que meu corpo não suportava, havia 1 ano que eu não estava adquirindo nenhum tipo de controle sobre o meu corpo, pois estava parada por conta de alguns pré - vestibulinhos. Então a questão de força, resistência, agilidade, velocidade, que é o básico, não foram desempenhadas tão bem o quanto eu queria .
Nessa época pude contar bastante com os meus amigos, em um dos principais movimentos que queria realizar o Climb - Up não tinha força suficiente, com base em alguns exercícios passados por eles conseguir fazer, mas não com facilidade. Uma das maneiras de tentar conseguir rápido, foi entrando em uma academia, foi uma carga explosiva para o meu corpo, pois não estava tão acostumada como antes. Em alguns meses na academia vi que eu poderia pôr em pratica quase os meus exercícios físicos em casa, e me dedico até hoje.
Por outro lado a desvantagem que insiste, é a confiança no qual me condicionava a não realizar de forma alguma os movimentos, era um desespero pra mim e quem estava ao meu lado, foram diversas frases de motivação, e com o passar dos treinos, me fizeram entender que a confiança partiria de mim mesma. E também a altura que me pressionava sempre para baixo e nunca no eixo que me encontrava. Foi preciso treinar a mente para que pudesse ser persistente nos movimentos que queria realizar. Até hoje tenho esses bloqueios, e acredito que treinando consigo me libertar, e estar em constante evolução com parkour.