Publicado por Luana Alves em http://besample.wordpress.com/
Semana passada me perguntaram: “Por que você treina parkour?”
Bom, a verdade é que eu já tinha em mente várias respostas para essa pergunta. Decidi, então, fazer delas um post. Vou começar bem do início mesmo pra inteirar os leitores do blog a respeito do assunto.
O que é parkour?
Parkour, ou Le Parkour, vem do francês parcours, que significa percurso. É uma atividade física (muita gente vê como esporte, mas eu prefiro o termo atividade física, ou a arte do movimento) que consiste em ultrapassar obstáculos da forma mais rápida e eficiente possível, usando apenas o seu próprio corpo, de maneira fluida e com a mínima interrupção do movimento.
Ah, é aquele povo que pula prédios, né?
Muita gente reconhece os praticantes de Parkour (Traceurs, no masculino, e Traceuses, no feminino) como “pessoas que pulam prédios” ou “pessoas que ficam pulando de um lugar para o outro”, o que é uma visão muito limitada do Parkour.
É claro que a atividade vai muito além disso. Você tem que superar obstáculos, respeitando os seus limites e seu corpo. Você passa a interagir com o ambiente à sua volta de uma maneira que você nunca interagiu antes. Os obstáculos não são mais coisas das quais você desvia ou tem medo, mas coisas que você sabe que você consegue superar, ou que você pode treinar até conseguir superá-los. Você interage com eles como se eles fossem parte do seu corpo. Eles deixam de virar ameaças, e viram oportunidades.
Tá, mas o que tem de legal nisso?
Tudo, absolutamente tudo. Como eu já disse, você muda a forma de encarar o ambiente ao seu redor. E você também muda a relação que você tem com o seu próprio corpo. Como eu li num blog uma vez, é como se você estivesse a vida toda no piloto automático e, de repente, tivesse o controle sobre o seu corpo. Foi exatamente o que eu pensei quando comecei a praticar.
Como eu comecei a treinar
Comecei a me interessar pelo Parkour quando tinha uns 15, 16 anos. Eu não lembro exatamente como eu fiquei conhecendo, só sei que dei uma “googlada” e achei esse blog. Obviamente, eu achei muito bacana e comecei a treinar uns movimentos básicos em casa, como o landing. Mas eu não sabia exatamente como começar, não tinha força para fazer alguns dos movimentos intermediários e não conhecia ninguém que praticava. Aí eu meio que deixei a ideia de lado.
O tempo passou,e em 2009 conheci um amigo que treinava. Na época eu estava com tantas coisas na cabeça (entre elas a faculdade) que a ideia de treinar já não me animava mais.
Nos anos seguintes (2010, 2011) ele me chamou pra treinar umas vezes, mas eu não ia por já ter outros compromissos ou por outros motivos quaisquer.
Foi só no final de 2011 que eu, fazendo a minha listinha de promessas para 2012 (mentira, eu não faço listinha de promessas.), decidi que estava na hora de fazer algo legal por mim mesma. O meu problema com as atividades físicas eram os mesmos de todo mundo: não conseguia “empolgar” com nehuma. E, quando achava alguma legal e pessoas legais pra fazer junto, não podia por causa do horário, da falta de dinheiro… Enfim, eram sempre vários fatores somados que deixavam tudo mais difícil.
No início de janeiro, falei com o Flávio que ele estava me devendo um treino. Conseguimos marcar um nos corrimões do auditório do ICB, na UFMG.
Foi a partir daí que a minha vida mudou pra sempre.
O progresso
Eu comecei do zero, praticamente. Estava há vários meses sem fazer uma atividade física regular, levando o ritmo de vida sedentário de pessoa que mal andava do estacionamento da faculdade pra sala, e ficava a noite inteira no computador.
Eu comecei treinando o básico, e quando você começa a treinar parkour, não adianta querer sair do primeiro treino já sabendo vários vaults e subindo muros, a menos que você já esteja praticando outra atividade física há muito tempo, e já tenha um preparo físico considerável.
Comecei do mais básico: a queda. Estávamos treinando cair de uma altura de mais ou menos 120 centímetros. Pensei: “Ah, isso é fácil”. Fui lá, e foi quando eu caí eu vi que eu não tinha quase nenhum controle corporal. Claro, depois de umas 5 ou 6 quedas comecei a cair mais “certinho”, sem cair pra frente depois, e fazendo pouco barulho.
Uma coisa eu posso dizer: eu não tinha quase nenhuma força nos braços. Comecei a treinar nos murinhos que tenho em casa também, e vou confessar que os primeiros treinos me deixaram morta, acabada. Pernas, braços, barriga… tudo doía.
Mas com o passar do tempo, percebi que o que antes eu fazia quase morrendo (como subir no murinho e ultrapassá-lo) já não estava mais sofrido assim. Nas férias, passei a treinar quase todos os dias. Comecei a fazer flexões no banco da praça, depois de joelhos, e agora já consigo fazer flexões normais. Ganhei um notável aumento de força nos braços, e nas pernas também. Quando eu tentava subir um muro mais alto, minha barriga doía horrores e eu tinha que soltar do muro pra ela parar de doer. Comecei a fazer abdominais, e depois de uma semana ela não doía mais quando eu tentava escalar. Eu nunca iria imaginar que escalada requer força no abdômen.
No meio do caminho havia uma pedra, e eu a ultrapassei.
Obviamente, no início eu me machuquei. Mas não machucar de quebrar osso, fraturar nem nada. Coisa boba – batia a perna aqui e ali. Mas isso só acontecia quando eu queria ir longe demais, além do que as minhas capacidades físicas permitiam. Não adianta querer pular de uma distância que você não vai conseguir, ou fazer um movimento que exige uma força que você ainda não tem. O progresso vem com o tempo, e é preciso ter paciência – e treinar, treinar, treinar, treinar.
As coisas que eu mais gosto no Parkour
- A sensação que você tem ao conseguir fazer uma coisa que você, antes, pensava que não ia conseguir fazer nunca
É recompensador treinar pra fazer um movimento e, depois de muito treino duro, conseguir. Subir num muro que você queria subir há tempos, fazer um precision que antes era difícil pra você, fazer um lazy perfeito com a mão que você tinha mais dificuldade.
É uma das melhores sensações que o parkour me proporciona.
- Liberdade de Movimento
No parkour é você contra você mesmo (ou você a seu favor!). Não adianta, a única pessoa que vai fazer o que você quer é você mesmo. Você pode ter ajuda, mas no final se você conseguiu é porque você fez. O mérito é seu.
Com isso, também vem duas coisas que eu gosto: o fato do Parkour não ser competitivo. Nenhum traceur fica competindo com o outro pra ver quem pula mais alto, quem corre mais rápido. É você, o seu corpo, os seus limites. A outra é que é uma atividade livre, portanto você pode treinar onde você quiser (dada as devidas limitações), fazer o movimento que você quiser na hora que você quiser. Não há um campo demarcado, nem ninguém pra te obrigar a fazer um movimento, nem ninguém pra te repreender se você fizer errado. Por outro lado, se você treina em grupo, com certeza vai ser estimulado a tentar, e, quando conseguir, vai receber elogios e comentários motivadores.
- Você consegue sentir que está progredindo
É muito bom se sentir mais forte, mais capaz, mais rápido a cada treino. E sentir também que você pode ajudar um traceur a progredir tanto quanto você.
O que eu ganhei com o Parkour
- Mais auto-estima;
- Mais confiança;
- Mais generosidade;
- Maior controle corporal;
- Força física;
- Resistência;
- Amigos.
Coisas que mudam depois que você vira um Traceur
- Você começa a achar um desperdício de tempo (e de energia também!) ficar esperando um elevador subir lá do primeiro andar pra te buscar no terceiro e te levar pra lá para o primeiro de novo.
Afinal, ir de escadas é muito mais rápido.
- Você traça uma rota de fuga da janela do seu quarto, da sua casa, do seu local de trabalho.
- Ao conhecer lugares novos, você já fica imaginando que movimentos pode fazer nele.
- Você sabe que, se você estiver um labirinto, você sai dele em 2 minutos.
- Se acontecer um apocalipse zumbi, suas chances de sobrevivência são grandes!
Concluindo…
Parkour é uma atividade muito boa de se praticar, porque ela envolve não só o treino físico, mas também o treino psicológico. É mais do que uma atividade física, é uma filosofia de vida. Qualquer pessoa de qualquer idade pode praticar, e o melhor é que você não precisa gastar horrores pra começar. Basta colocar uma roupa leve, caçar tênis e treinar!
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