Confesso que não me lembro se foi em um texto ou em uma conversa com a Ana Antar (há alguns anos atrás) que levantamos a discussão sobre a participação da mulher no parkour. O discurso comum é que mulheres não treinam, Abandonam com facilidade a atividade. E antes que alguém levante a bandeira dizendo que é isso mesmo, ou que é um discurso comum só no Brasil, já informo que não é.
O que vejo no Rio e vi em outros lugares é que o número de homens treinando parkour sempre é muito maior do que o de mulheres. Quantos começaram a treinar e depois pararam? Muitos! Você chegou a guardar o nome de algum? Quase nenhum! A quantidade de mulheres treinando sempre foi menor, quando uma deixa de treinar fatalmente você sabe o nome dela.
O que acho graça é que ninguém fala mal do amiguinho que não treina todo final de semana, ou que trocou por um tempo o parkour por alguma outra atividade. Mas, as meninas frenquentemente escutam: Mulher não treina aqui na cidade (no estado, no país, no planeta, no universo...). Isso sem falar nos apelidos: maria mureta, cilada, moda, etc. E do discurso tão dito por outros, acabamos por assumir como verdade e repetimos umas às outras.
E, por que não dizemos o oposto, se em cada lugar que passei, diferentes pessoas que conheci, vi tentando criar espaços para incentivar a prática? Por que raramente divulgamos que a frente é nossa para fazer qualquer coisa com o nome parkour? Por que somos tão envergonhadas de mostrar as nossas ideias, de marcar treinos, de passar treinos, de opinar contra algo que falaram por medo de ser chamada de moda?
E daí que o seu interesse pelo parkour veio por causa de um carinha que você saiu ou namorou? E daí que você leva o parkour como hobby de final de semana ou que você pratica só para emagrecer? Nem todo mundo tem de ter o mesmo pensamento. Imagina que saco seria o mundo se todo mundo pensasse igual. E daí que a fulana(o) e beltrana(o) fazem o climb up digno de aplausos ou pena, se a graça toda dos treinos é aprender a controlar os próprios medos, a se concentrar, fazer seu corpo descobrir movimentos e a sua mente a acreditar que pode? A graça não é entender que todo mundo é aluno e professor? E daí que ela fica feliz em mostrar os calos das mãos, ou usa luva para não ter os calos? E daí que a sua precisão não é 9 pés? E daí que os seus braços vivem ralados de tanto tentar subir o muro, e que você não sabe usar a joelhada para fazer o climb up?
Independente do lugar em que você está e treina (pelas visitas do blog, sei que há uma galera de outros países que lê os nossos textos), queria só que você pensasse se realmente o discurso, que escuto desde que comecei a treinar, é verdade. Queria só que você pense por quê, afinal, você propaga isso. Queria que no próximo treino que você fosse, você olhasse a outra envergonhada e oferecesse ajuda e não julgamento. Queria na próxima discussão sobre qualquer tema, você levantasse sua voz, porque a sua opinião importa sim! Queria, mas falta saber se você também quer! Porque, para mim, independente da sua razão, do estágio que você está, se você tem interesse em parkour, você é mulher que treina! E, de verdade, quero muito que você também se veja assim.
0 comentários