Recentemente, depois que Sebastian Foucan disponibilizou o conteúdo do canal freerunning.tv para oyoutube, assisti à um de seus vídeos em que ele está treinando em Elephant & Castle, um pico bem famoso aqui de Londres. Nesse vídeo, Foucan executa, ou tenta executar, um SDC+precisão de um muro para o outro. Ele precisou de várias tentativas até conseguir acertar o movimento. E isso me pareceu um pouco estranho. Na minha primeira semana treinando na Europa com a Parkour Generationseu fui até esse mesmo lugar e sem esforço fiz o mesmo salto-precisão. Seb Foucan está no jogo há bastante tempo e eu, com minhas expectativas, esperava que ele não enfrentasse dificuldade alguma para completar essa tarefa. Isso ficou em meus pensamentos por uns dias até que conversei um pouco com a Julie Angel e Stephane Vigroux sobre esse movimento feito por Foucan naquele ponto especificamente. Eles evidenciaram um ponto que era lógico pra mim mas que muitas vezes passa despercebido para os recém adeptos à disciplina.
Desde o início da estruturação do Parkour, com aquele primeiro grupo a o qual me referi no meu post anterior no site do PKMAX Parkour, é sabido o quanto aqueles caras testavam o limite de suas capacidades. Diferentemente deles, Foucan tinha muito medo de altura e travava uma luta interior para controlar sua fobia. Uma característica que muitos praticantes hoje no mundo inteiro podem se identificar. Atualmente empregamos algumas técnicas durante os treinos para lidar com esse medo e devemos grande parte disso àquela geração. Em vários momentos durante os seus treinos, Foucan deixava de acompanhar os amigos nos desafios em alturas e aprimorava por horas seu estilo em ground level. Nessa conversa com Julie ela me disse que, após documentar vários traceurs de várias localidades com diferentes histórias, Foucan, apesar de não apresentar esse perfil de movimentos incríveis com saltos gigantes e arriscados, é um dos caras que possui o melhor "touch" dentre os traceurs da primeira geração, em que encontra-se David Belle, Yahn Hnautra, Chau-Belle Dihn entre outros.
O tato é uma característica que só é alcançada com o tempo. Para isso são dedicados anos de treinos intensivos e conscientes. Essa atenção precisa estar engatilhada a todo momento. Retornando ao início do post, essa atenção é o elemento fundamental ausente nos praticantes menos cuidadosos que "se jogam". Geralmente, vejo esses praticantes fazendo uma precisão para um muro, longe, em seu limite, um salto perfeito e no entanto, ao descer do muro, escuto o landing mais horroroso, como se um saco de entulho tivesse caído do alto de um prédio. Essa falta de atenção, capricho e polimento é que diferencia um traceur legítimo de um praticante com 3, 4 anos de prática. De que adianta todos os movimentos impressionantes se falta cuidado nas coisas mais simples. E isso reflete diretamente nos movimentos grandes que chamam mais atenção.
Todo o discurso da brutalidade tem um objetivo além de o de ficar mais forte. Claro, o aumento da força é a principal finalidade numa primeira etapa, mas só existe o desejo de fortalecer-se para alcançar o próximo nível técnico. Quando sobra-nos técnica é o momento de treinar força e vice-versa. O equilíbrio entre esses dois pilares pode não ser alcançado jamais, esse é um caminho longo mesmo. Por isso, devemos sempre estar focados em masterizar todo movimento, seja o take-off, o salto em si, a precisão do movimento na aterrissagem e posicionamento das mãos, no landing e no que mais for necessário.
Bons treinos.
Bruno Rachacuca
1 comentários
Adorei a DICA, o puxão de orelha para que cada um cuide do seu treino e principalmente essa questão de limpar o movimento, não fazer simplesmente um kong pensando na hora de ultrapassar o obstaculo, mas pensar que ele tem a parte da corrida, da saída, fase aerea e ainda a chegada ao solo com amortecimento e até a finalização do movimento na parada. Ou seja, tem que se pensar no movimento completo e não na 'pose para a foto' saushausha Curti! Vlw a dica!
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