Por Duddu Rocha, publicado em http://duddupk.blogspot.com/
A natureza é sábia e possui um processo de seleção natural incrível. Anos de evolução e de adequação ao meio fizeram de nós, seres humanos, estruturas complexas e com características únicas.
O homem, em qualquer momento de nossa história, sempre foi incutido das tarefas mais árduas, da proteção do território, da caça e da competição pela sobrevivência. Já a mulher, preparada para a maternidade, a manutenção do lar, a estruturação das famílias e o sexto sentido para tudo que somos incapazes de perceber. De geração a geração, a natureza distribuiu e lapidou os papéis, os hormônios e as características de cada gênero.
Mas se existe um aprendizado no Parkour que modifica por completo as nossas vidas é a descoberta de que não é porque as coisas foram pré-determinadas para um devido fim que elas sirvam somente para isso. E eis então que as mulheres ganharam força. E aqui me refiro a um sentido específico da palavra ”força”: o abandono à metáfora do salto alto e a luta pela igualdade de representação.
Para chegar à conclusão que almejo preciso apresentar dois personagens fundamentais em nossa história: O Senhor Testosterona e a Dona Estrógeno. O primeiro é o cara responsável pela virilidade masculina, a brabeza, a força, o crescimento muscular e o grito de energia. O segundo provoca o alargamento do quadril, aumento nos seios, definição das curvas e regula a ovulação e o sistema reprodutor feminino.
Analisando de forma um tanto fria, a dicotomia dos hormônios sexuais desfavoreceu o homem quanto à variedade de funções. Pois, embora a mulher possa se vestir de persistência, garra e determinação para tornar-se forte, não existe treinamento algum que conceda ao homem a capacidade de gerar vida.
E onde entram o climb e o planche na parada?
Em meu primeiro treino, eu climbei.
Em meu primeiro treino, eu planchei.
Quantas meninas você conhece que podem dizer o mesmo?
Em meu primeiro treino, eu planchei.
Quantas meninas você conhece que podem dizer o mesmo?
A diferença entre os universos é determinada por nossas valências físicas: Não sou desequilibrado por seios. Não mênstruo. Não sou curvilíneo. E culote pra mim é algo que inexiste!
O climb e o planche foram as grandes modas do universo masculino de 2007/2008. Isso porque ao desembarcarem em nosso mundo automaticamente foram utilizados como ferramenta de separação entre meninos e homens. Você podia não saber correr (que seria o fundamental no Parkour), poderia não saber absorver impactos (que seria fundamental na sua vida), mas se você fosse capaz de climbar reto ou planchar... meu caro... formariam-se filas para bater foto com você e te marcar no facebook depois!
Até hoje os dois são observados em encontros e treinos como cartões de visita. Algumas pessoas insistem ainda em acreditar que os anos de treino que possuem se condensam nessas duas habilidades.
Não acho errado esse pensamento, como um todo. Afinal de contas, todo treino é válido e os dois são catalisadores de potência física brutal. Mas considero prejudicial esse culto à forma, ao definido e ao requisito técnico em detrimento da real força que a movimentação do Parkour pode proporcionar. Conheço pessoas que acham melhor atrasar o percurso para conseguir climbar reto (com direito a pausa para ajeitar o pé e o braço) do que ligar o “foda-se a estética” e seguir o caminho traçado.
Muros e barras deixam de ser obstáculos para se tornarem palco.
Quanto ao mérito do planche, acho tão igual ou pior. Acredito que a intenção dele de início era se tornar uma maneira rápida de sair de baixo da barra/marquise/oquefor e ir pro andar de cima. Acho a preocupação com esse movimento algo exagerado, pois foram mínimas as vezes que precisei dele para complementar um flow. E, como normalmente encontro jeito mais fácil e mais rápido, não é algo que mereça minha atenção em tempo integral: consigo subir, sei fazer, tá bom.
Mas aí então as meninas começaram a climbar e a planchar.
O clímax dos vídeos femininos se tornou o momento em que elas grudam nos muros ou pulam pra segurar uma barra. Algumas vezes a edição tem direito a slow-motion, repetição em multi-ângulo e, se brincar, até empurram a música das olimpíadas pra comover...
Nunca, nós homens, poderemos comparar o esforço de uma subida de muro feminina com a masculina. Não faz coerência. Elas se tornam gigantes mesmo subindo somente 2 metros. E todo mundo sabe que a disputa só é justa quando os adversários se equiparam. Porém, eu não me sinto a vontade em prostituir as explosões físicas no universo do Parkour Feminino.
Traceuses correm atrás do prejuízo todos os dias. A mãe natureza não teve pena em fuder com elas. Mas embora a superação dessa maldição seja sim um troféu, eu só concedo meu respeito por ele uma única vez. Depois disso se torna obrigação.
Eu reconheço que as meninas no Parkour têm que superar inúmeros obstáculos físicos, mentais, emocionais e biológicos. Reconheço também que sou homem e que, embora treine com meninas e acompanhe o desenvolvimento delas, jamais serei capaz de falar com propriedade sobre o assunto. Mas como espectador e praticante da mesma atividade, acho perda de tempo e desperdício de potencial quando vejo suas forças serem quase que exclusivamente focadas a somente uma parcela de todo o chão que ainda precisam correr.
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