Ana Antar

By Carolinne Goes - 01:40





Nome: Ana Antar. Na verdade, meu nome de batismo é Ana Paula Machado Antar, mas eu acabei cortando o Paula e o Machado por causa da numerologia. rs             

Cidade: Salvador - BA

Idade: 25

Fale um pouco sobre você: Sou diretora teatral formada pela Universidade Federal da Bahia. Trabalho com teatro, dirigindo, atuando, ensinando e na parte técnica (iluminação). Sou Diretora Geral do JOGO, grupo que pesquisa teatro em diferentes mídias e que se utiliza do Parkour como meio de preparação corporal.
Já entrando no meio parkourístico, sou membro da diretoria da ABPK, comentarista do Saut de Cast, escrevo esporadicamente para o De Cima do Muro e sou membro d’A Folha. Bem, isso nada mais é do que muito trabalho (sem nenhum glamour). Confesso que, às vezes, é bem difícil arrumar tempo para fazer tudo bem feito.

Há quanto tempo você treina? Oficialmente há 2 anos.

Como você conheceu o parkour? Confesso que não me lembro exatamente. Sei que foi no início de 2007 e que foi pela internet. Vi algum vídeo, me interessei e comecei a pesquisar. Na época achava que não tinha praticantes no Brasil (ignorância minha, eu sei).

O que você viu no parkour?
 Inicialmente, uma prática corporal com muitas possibilidades cênicas. Depois a coisa mudou, se tornou pessoal. Desde o início, quando eu propus fazer “O Programa” (meu espetáculo de formatura e primeiro experimento do JOGO utilizando Parkour), queria treinar junto com os atores, achava importante para o processo que todo mundo passasse pelo sofrimento e pelo aprendizado em conjunto. Até porque era muito simples eu jogar a peteca para eles e falar “se virem”. Foi a melhor coisa que eu fiz, primeiro porque,  profissionalmente, foi importante para o elenco. Criou-se uma confiança mútua, todos nós estávamos sentindo as mesmas dores, as mesmas dificuldades. Depois porque isso mudou significativamente a minha vida. O Parkour se tornou tão parte do meu cotidiano quanto ler, escrever e respirar. Por mais exagero que pareça, as coisas aconteceram muito rápido e, quando eu dei por mim, já tinha uma série de mudanças em minha rotina em função do Parkour, e o melhor é que nada disso foi forçado.  

O que o parkour significa para você? Além de muito trabalho e um prazer imenso, o Parkour surgiu para mim como uma nova possibilidade. Uma nova forma de olhar para as pessoas e para mim mesma. Eu venho de um mundo onde as relações são verdadeiras até os quinze minutos do primeiro tempo. No Parkour eu presenciei uma das coisas mais bonitas que eu já vi na vida: pessoas abrindo suas casas e confiando em gente que nunca haviam visto. Isso no “meu mundo” é algo absolutamente impossível. Existe algum tipo de “intimidade instantânea” que a prática proporciona, talvez pela sua origem, talvez pela forma como ela tenha se desenvolvido, não sei direito, mas é algo em que eu não acreditava mais, que havia se perdido, pelo menos para mim. Acho que isso é muito forte quando eu penso em Parkour. Por mais que o seu desenvolvimento e as suas conquistas sejam individuais e em muitos momentos a prática precise ser solitária, não consigo dissociá-la de amigos.

Quais foram os seus maiores desafios quando você começou a treinar parkour? Bem, acho que o meu primeiro grande problema foi teoria demais. Eu levei três anos estudando, lendo tudo que saia, vendo “todos os vídeos” e achava que tinha bastante embasamento teórico, e esse embasamento aliado ao fato de ser ex-atleta ia me dar um super bônus. Eu só esqueci que era EX-ATLETA  e não atleta. Minha forma física estava um lixo...  Quando eu cheguei ao meu primeiro treino no Parque Costa Azul e acabei o aquecimento, eu, simplesmente, caí no chão (isso é literal). Eu não consegui mexer as pernas (tanto que a galera que estava perto ficou com medo de ter acontecido alguma coisa séria). O fato era que eu estava demasiadamente sedentária e meu corpo estava muito fraco, mas eu não sabia disso, pois havia muito tempo que eu não precisava usá-lo de verdade. Depois disso, tive a primeira queda e aí a coisa ficou séria. Eu morria de medo de cair de novo, porque, quando eu voltei a treinar tinha fraturado o cóccix (nada que ver com Parkour), então, tudo doía muito, inclusive precisões pequenas, no chão mesmo. E até eu entender que não ia parar de doer e que eu ia ter de me acostumar com a dor foi muito tenso. Criei muitos traumas, altura é um deles, sempre tive medo e, talvez o Parkour seja uma forma de tentar superar, assim como o rappel. Sempre gostei dessa coisa masoquista de encarar o medo nos olhos e enfrentar. Às vezes eu ganho, às vezes ele ganha.
Eu entendi no Parkour que a minha evolução nada tem que ver com pular mais alto que ninguém e sim em me superar. Que evolução é entender que, toda vez que eu paro eu não tenho como voltar de onde eu estava, porque, quando você pára, você perde, o seu corpo perde e ele precisa reaprender. E isso faz com que muita gente desista depois de uma lesão, por exemplo. Eu tenho um corpo muito complicado e isso me obriga a parar de vez em quando e, confesso que, às vezes dói muito ver todo mundo “crescendo” e me ver parada, mas eu entendi que quero fazer Parkour pelo resto da minha vida e por isso eu vou ter que parar todas as vezes que o meu corpo mandar e vou ter que voltar do zero quantas vezes for necessário.

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